Quem passou pelas redes sociais neste mês, provavelmente se deparou com uma enxurrada de vídeos vendendo, consumindo ou ensinando a preparar o Morango do Amor — uma releitura da tradicional maçã do amor, mas feita com morango e brigadeiro de leite Ninho.
Com uma receita simples, apelo visual marcante e sabor nostálgico, a sobremesa tem movimentado confeitarias e pequenos empreendimentos gastronômicos em todo o país. O doce está gerando vendas recordes e até cases de empreendedorismo de alto impacto.
O modelo de negócio por trás do Morango do Amor é tão direto quanto eficaz: trata-se de um produto de baixo custo de produção, altamente instagramável, com alta margem de lucro e ideal para quem atua em escala reduzida.
O preço de venda, que varia entre R$ 10 e R$ 17,50, garante retorno rápido — especialmente quando combinado com estratégias digitais e entregas locais.
Segundo a especialista em tendências de consumo Luciana Pinheiro, modas como essa fazem parte de ciclos acelerados de comportamento digital, em que um produto simples e visualmente atraente é impulsionado por algoritmos e pelo efeito viral das redes sociais.
“Negócios menores têm mais agilidade para responder. Em algumas semanas, testam, ajustam e colocam no cardápio. É por isso que raramente perdem uma tendência — eles entram antes da saturação”, explica Luciana.
Além do efeito visual e social, as tendências digitais têm um impacto direto no faturamento e na sustentabilidade dos pequenos negócios. Empreendedores que abraçam rapidamente essas modas conseguem aumentar o volume de vendas e o ticket médio, gerando resultados financeiros expressivos em curto prazo.
No caso do Morango do Amor, confeiteiros relatam aumentos significativos no faturamento mensal, muitas vezes superiores a 30%, graças à alta demanda. Essa receita extra permite investimentos em equipamentos, contratação eventual de ajudantes e ampliação da base de clientes por meio de redes sociais e delivery.
Para pequenos negócios, a agilidade e a capacidade de adaptação são diferenciais competitivos que se refletem diretamente na sobrevivência e crescimento no mercado cada vez mais digital e dinâmico.
Essas febres nas redes sociais acontecem porque reúnem três elementos-chave para viralização: facilidade de replicação, forte apelo visual e carga emocional ou nostálgica. Produtos que parecem fáceis de fazer ou entender — como doces, itens artesanais ou experiências simples — tendem a gerar engajamento imediato.
Além disso, vídeos curtos com estética atrativa, trilhas sonoras populares e reações positivas (como surpresa, desejo ou conforto) aumentam as chances de um conteúdo ser promovido pelo algoritmo, alcançando milhares de pessoas rapidamente.
O funcionamento dos algoritmos do Instagram e do TikTok reforça esses fenômenos. Essas plataformas priorizam conteúdos que geram alta interação nos primeiros minutos após a publicação — curtidas, comentários, compartilhamentos e visualizações.
Quando um vídeo ou imagem apresenta um produto visualmente atraente, com trilha sonora popular e reação emocional, ele tem mais chances de ser mostrado a milhares de usuários. Isso cria um ciclo de viralização que pode explodir em poucas horas, acelerando a difusão da tendência.
Tatiana Secco, da Doçura Docinhos, produz 50 unidades do morango do amor por dia e tem recebido encomendas para eventos corporativos e festas
Trends
Outro fator decisivo é o comportamento do próprio usuário, que, muitas vezes, sente a necessidade de mostrar que está “na trend”. Curtir, compartilhar ou comprar algo que está em alta gera sensação de pertencimento, relevância social e até validação digital.
“Postar que está comendo o doce do momento, usando o item da moda ou testando o viral do dia se torna quase um gesto de identidade online. A pessoa quer mostrar que está atualizada, conectada com o que está bombando”, explica a especialista.
O Morango do Amor é o exemplo mais recente, mas não o único. Ele segue o mesmo padrão de outras febres recentes que dominaram o feed e as vitrines de docerias, como o pistache, o chocolate de Dubai e até o livrinho de colorir Bobbie Goods, que ganhou fama por seu visual delicado e proposta acolhedora.
No caso do pistache, o fenômeno começou há cerca de um ano, com a popularização do uso da oleaginosa em doces como brownies, brigadeiros, bolos e croissants. A coloração verde clara, associada ao refinamento e ao sabor delicado, fez com que o ingrediente ganhasse status de gourmet, mesmo com o alto custo.
O resultado foi um efeito cascata: dezenas de confeitarias criaram produtos com pistache, aumentando a percepção de valor dos doces e atraindo um público disposto a pagar mais.
Já o chocolate de Dubai trata-se de um bombom recheado, envolto em uma camada de chocolate ao leite e finalizado com folhas de ouro comestíveis — um doce extremamente visual, que remete ao luxo e foi impulsionado por vídeos de influenciadores mostrando caixas de presente “premium”.
Embora o nome remeta ao Oriente Médio, o produto é majoritariamente fabricado no Brasil e ganhou esse apelido por levar ao visual ostentoso e à estética dourada que viralizou nas redes.
E há também os produtos que nem sequer são comestíveis. O caso do Bobbie Goods, por exemplo, mostra que o apelo visual e a simplicidade funcionam também em outras categorias.
Ele viralizou justamente por proporcionar uma pausa criativa em tempos acelerados e estressantes. “É o mesmo princípio: algo simples, com carga emocional e que gera conteúdo visual agradável. Isso move tanto o desejo de compra quanto o compartilhamento espontâneo”, analisa Luciana.
A diferença agora está no foco. “Enquanto o pistache inspirava várias sobremesas e o chocolate de Dubai remetia a uma linha de luxo, o Morango do Amor é um único produto que está liderando o interesse do público”, observa Luciana.
Mas a especialista também lembra que trends duram pouco. “Do mesmo jeito que chegam, somem. Então, se é algo que possa levar um empreendedor a lucrar rapidamente, a dica é aproveitar a tendência e se adaptar, porque pode ser uma boa oportunidade. No caso do pistache, ele tem durado mais do que o normal.”
Impacto imediato
O impacto nas vendas tem sido expressivo. Nas confeitarias, o ritmo acelerado surpreende. A confeiteira Tatiana Secco, da Doçura Docinhos, que trabalha com festas e doces personalizados, tem conciliado a alta na demanda com uma rotina de produção solo.
“Tenho feito uma média de 40 a 50 morangos por dia, mas só porque estou controlando. A procura é grande, os pedidos nunca são de um ou dois, sempre de quatro para cima”, afirma.
Fernanda Azevedo, do Ateliê Clara Azevedo, já vendeu 800 unidades do doce desde que a febre começou. “Passamos também pela febre do pistache, vamos nos adaptando às tendências”
Além das entregas individuais, ela já recebeu encomendas para eventos corporativos e festas, e está testando versões menores do doce para servir como item de mesa. “Vou usar os moranguinhos menores que vêm no fundo das caixas. É uma forma de evitar desperdício e aproveitar melhor o investimento. Posso montar caixinhas com três unidades, por exemplo, por R$ 18.”
Já a confeiteira Ludmila Ruiz relata que nunca viu tanta procura por um único doce. “Já vimos outras tendências, como a do pistache, mas neste caso eram várias sobremesas baseadas em um fruto. Agora, o que é curioso é que a demanda aumentou por um único tipo de doce”, conta. Sua confeitaria fez, nesta semana, 1.800 doces em apenas três dias.
No Ateliê Clara Azevedo, localizado na Freguesia do Ó, zona norte de São Paulo, a procura também tem sido intensa. Desde a semana passada, quando iniciou a produção do doce, o ateliê já vendeu mais de 800 unidades. “Estamos recebendo mais de 100 mensagens por WhatsApp e Instagram”, afirma Fernanda Azevedo, filha da proprietária Clara Azevedo, que atua com a mãe no negócio.
As vendas acontecem tanto por encomenda quanto por pronta-entrega, com maior volume neste último formato. Cada unidade é vendida por R$ 18. Durante o fim de semana, o ateliê já tinha uma produção de 600 morangos programada, com mais de 100 unidades reservadas antecipadamente.
“Também passamos pela febre do pistache. Temos ainda torta de pistache, bolo chocopistache e até café com pistache. A gente vai se adaptando às tendências”, diz Fernanda.
O Brasil é hoje o 8º maior produtor mundial de morangos, com cerca de 250 mil toneladas por ano, cultivadas em uma área de aproximadamente 6 mil hectares. Estados como São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Espírito Santo e Santa Catarina concentram 80% da produção. A febre do Morango do Amor terá, em breve, resultados positivos sobre essa produção a curto prazo.
Fonte: Diário do Comércio